terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A ADOLESCÊNCIA E O ÁLCOOL

A adolescência é um período em que ocorrem rápidas alterações físicas, psicológicas, sócio-culturais (DiClemente, Hansen & Ponton, 1996), fortemente caracterizado pelo esforço e experimentação.

Mais do que uma mera fase de transição, a adolescência, que dura aproximadamente uma década, abrangendo o período que vai dos 11 aos 20 anos (Gallahue, 1989, citado por Papalia & Olds, 2000) é um ciclo importante da vida, pois ocorrem modificações psico-sociológicas, que se prolongam por vários anos (Palácios, 1995, citado por Papalia & Olds, 2000).

Entre as mudanças biológicas, destaca-se um rápido crescimento em altura e peso, salientando-se as mudanças na proporção e forma do corpo. De acordo com Papalia e Olds (2000), estas mudanças físicas dramáticas são parte de um complexo processo de maturação, que se inicia antes mesmo do nascimento, com as suas ramificações psicológicas, continuando até a idade adulta.

Identicamente, as modificações hormonais, características desta faixa etária, estimuladas fisiologicamente em função da activação das hormonas da hipófise, começam a desenvolver as características sexuais primárias e secundárias, provocando uma modificação irreversível, demarcando a perda do corpo infantil (Papalia & Olds, 2000).

Estas alterações hormonais actuam no sistema emocional e provocam inesperadas explosões ou desânimo. Como as hormonas estão associadas a “agressões” e a “depressões” (Papalia & Olds, 2000), são também responsáveis pela maior emotividade e episódios de mau humor na adolescência.

Vão também surgindo problemas emocionais relacionados com a insatisfação em relação à sua aparência, em função da imagem existente, em relação aos atributos de beleza socialmente desejados e que são veiculados culturalmente (Papalia & Olds, 2000).

O processo básico de desenvolvimento do adolescente envolve modificar relações entre o indivíduo e os múltiplos níveis do contexto em que o jovem se encontra. Variações na existência e no ritmo dessas relações promovem uma grande diversidade na adolescência e podem constituir factores de risco ou factores protectores através deste período de vida (Lerner, 1998; Matos, 1997).

A multiplicidade de contextos sociais e interpessoais em que o adolescente se move representa desafios adicionais e possibilidades acrescidas destes virem a desenvolver problemas de ajustamento, com consequências negativas na sua saúde (Matos, 1997).

Embora a adolescência seja a fase do apogeu da saúde, muitos hábitos negativos e prejudiciais são estabelecidos nesta fase, podendo permanecer ao longo da vida (Figueira Junior, Ferreira, Araújo, et al., 2000). Muitas das consequências adversas da saúde experienciadas pelos adolescentes são, dentro de um grande âmbito, o resultado de comportamentos de risco, sendo a maioria das actuais ameaças consequência de factores sociais, ambientais e comportamentais.

Consumo de álcool na adolescência

Segundo Santos (1999, citado por Cabral, 2004) a maior probabilidade de os jovens consumirem drogas ilícitas e/ou lícitas (álcool) acontece mais na transição entre a adolescência e a idade adulta. O mesmo autor considera que os jovens são um grupo de bebedores vulneráveis, porque muitas das vezes encontram “refúgio” na bebida para lidar com problemas de integração nos diversos grupos a que pertencem, ou com problemas familiares, escolares, emprego, etc.

Para Cabral (2004), o adolescente encontra-se num processo de desenvolvimento biopsicosocial, podendo o consumo de álcool afectá-lo profundamente, com repercussões para toda a vida, pois, segundo a autora, o álcool é considerado uma droga do tipo depressora, diminuindo a actividade cerebral.

Os seus efeitos nocivos influenciam as capacidades de aprendizagem, podendo mesmo haver perda das capacidades cognitivas, sendo também responsável pela maioria das causas de morte na adolescência: traumatismos, suicídios e homicídios, onde o álcool está muitas vezes presente (Antunes, citado por Cabral, 1998).

Borges (1993, citado por Cabral, 2004) alerta para o impacto do consumo de álcool no desenvolvimento cognitivo e psicossocial dos adolescentes, referindo que este contribui, acentuadamente, para as perturbações psiquiátricas e comprometimentos a nível da saúde mental. Trindade e Correia (1999) consideram que a ingestão de álcool pode ter repercussões directas a curto, médio e longo prazo. Por conseguinte, a probabilidade da existência de comportamentos desviantes nos adolescentes é maior nos que bebem, interferindo ainda com as fases normais do processo de desenvolvimento em curso.

Ao longo do tempo vários são os estudos sobre o consumo de álcool na adolescência. A maioria dos indivíduos tem o seu primeiro contacto com o álcool na adolescência, por volta dos quinze anos de idade e o pico de consumo ocorre normalmente aos 35 anos (Cabral, 2004). A este propósito, Matos e Carvalhosa (2003), salientam que o primeiro contacto com o tabaco, com o álcool e a primeira embriaguez acontecem, em geral, na adolescência (entre os 12 e os 17 anos). Negreiros (1996) concorda, pois num estudo efectuado pelo autor no concelho de Matosinhos, 13,1 anos é a média de idade encontrada para a iniciação ao uso de álcool, embora alguns inquiridos tenham referido o primeiro contacto com idade igual ou inferior a 11 anos. Em relação às diferenças entre os sexos, estas não são significativas, sendo, curiosamente igual a média de idade de iniciação.

Considerando os estudos apresentados, somos levados a inferir que alguns dos motivos que levam os adolescentes à ingestão de bebidas alcoólicas são a curiosidade, a imitação, a sugestibilidade, a aceitação social/cultural desse consumo e também o incentivo por parte do grupo.

Por outro lado, os factores de risco, como a baixa auto-estima, a pressão do grupo, o insucesso escolar; a precariedade económica do agregado familiar, com carências de habitação e emprego estáveis; famílias desagregadas ou em ruptura, com marcadas dificuldades de comunicação, ausência de regras e historial de consumo de álcool, funcionam como catalisador do consumo por parte dos adolescentes.

Todos os estudos sobre esta temática sustentam a utilidade de programas de intervenção, que potenciem os factores protectores como: boa auto-estima, crenças de auto-eficácia, capacidade de resolução de problemas, competências de relacionamento interpessoal e expectativas de sucesso realistas; famílias com intimidade, envolvimento afectivo, padrões de comunicação claros e fronteiras nítidas, famílias sem história de consumo de tóxicos- preparando os adolescentes para os contextos onde estão inseridos, treinando competências para resistirem às influências.

Deste modo, qualquer programa de prevenção deve passar por informar, orientar e capacitar os adolescentes acerca de estratégias protectoras, por promover atitudes saudáveis, em idades mais precoces, a fim de evitarem ter que modificar posturas prejudiciais mais tarde. Esta dever-se-á fazer de forma integrada, o mais precocemente possível e com a adopção de métodos activos.

Consideramos que é necessário actuar antes que os problemas apareçam e se convertam em estilos de vida prejudiciais à saúde e ao pleno desenvolvimento dos jovens. Deste modo, torna-se necessário realizar uma prevenção educativa e continuada em meio escolar e social, envolvendo toda a comunidade educativa, ou seja, parceiros sociais, pais e encarregados de educação, alunos, professores e funcionários.


Ana Paula Lima